O mercado projetava um terceiro trimestre com o Produto Interno Bruto (PIB) andando para trás, ou seja, crescimento negativo. O resultado veio positivo em 0,1% na comparação com o segundo trimestre deste ano. Surpreendeu, posto que os indicadores do nível de atividade apontavam para o enfraquecimento da economia.
O Consumo das Famílias puxou o resultado para cima, à medida que representa 70% do PIB e foi positivo em 1,1%. O mercado de trabalho mais consistente tem ajudado na manutenção do apetite dos consumidores, apesar da taxa de juros ainda ser salgada.
Quando a análise leva em conta os setores da economia, depois de um primeiro trimestre excepcional, com crescimento de 21,6%, a agropecuária enfraqueceu, recuando 3,3% no trimestre. No primeiro trimestre ocorreu safra recorde de grãos, o que não se repetiu agora.
Os setores de serviço e indústria cresceram 0,6%. Como os serviços representam praticamente 70% do PIB e a indústria um pouco mais de 25%, ambos puxaram o desempenho para cima. Mesmo assim, 0,1% é quase nada.
Olhando em perspectiva a preocupação está na variável investimentos, que encolheu 2,5% no período. Sem o apetite dos investidores em ampliar sua infraestrutura, trocar ou adquirir máquinas e equipamentos, a leitura é que ali na frente o PIB pode encolher e não se sustentar. Os investimentos deveriam representar mais de 25% do PIB, mas operam abaixo dos 20%, na casa dos 18%, o que é muito pouco para garantir crescimento constante e duradouro.
Diante deste cenário está mais atual do que nunca a frase pinçada pelo economista Roberto Campos, avô do presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, afirmando que o desempenho econômico brasileiro é semelhante ao voo de galinha. Como sabemos que galinha não voa, sempre ocorre a mesma coisa: cresce, cai, cresce e cai. A China teve nos últimos anos o voo de águia, e sustentou seu crescimento, tornando-se a segundo maior economia do mundo.
A equipe econômica do governo federal, comandada por Fernando Haddad, não pode se iludir com o fato de o resultado do terceiro trimestre ter vindo melhor do que o projetado, porque o resultado de 0,1% sustentado no Consumo das Famílias não garantirá, como colocado, crescimento duradouro e sem desequilíbrios econômicos. Mais do que se iludir com o resultado, não é plausível transferir responsabilidade ao Banco Central, criticando a taxa de juros, afinal, o grande risco da economia hoje á a questão fiscal, cuja política é de responsabilidade do governo Federal, portanto, está na hora de fazer sua parte, com rigor nos gastos, e menor apetite em tributar.
Nada contra as galinhas, mas no contexto econômico, devemos criar condições para que a águia possa ser o símbolo do desempenho econômico brasileiro.
