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Novo governo: evitar o imposto inflacionário

O presidente eleito, Lula, e seus principais assessores que coordenam a transição de governo, dizem que precisam entregar à população as promessas de campanhas, e que será necessário ampliar os gastos públicos. Os valores estimados estão na casa de R$ 200 bilhões, o que, se isso ocorrer, projetaria um déficit público na ordem de R$ 267 bilhões somente para 2023. Para que isso se concretize é preciso negociar com o atual Congresso Nacional.

No meio deste volume de recursos adicionais há causas nobres, como a manutenção da transferência de renda, como o Auxílio Brasil, e o reposicionamento de verbas para ações importantes notadamente na área da saúde.

Por outro lado, não dá para entender a pressa em entregar tudo que foi prometido logo no primeiro ano de governo, mesmo porque, boa parte das promessas já havia um entendimento não seria possível cumprir. É aquela velha história que durante a campanha tudo pode, tudo é fácil. São quatro anos de governo e é preciso um plano de curto, médio e longo prazos.

Além desta necessária avaliação, há que se considerar os eventuais efeitos colaterais se o país entrar em aventura fiscal, ou seja, explodir os gastos públicos sem a devida arrecadação tributária. Para usar uma linguagem alusiva a copa do mundo no Catar, entrará em campo a palavra risco e tudo que ele representa. Risco, incertezas, quanto mais elevados, maior será a necessidade de oferecer retorno aos agentes econômicos.

Para facilitar o entendimento vamos ao possível ciclo de uma aventura fiscal: os gastos públicos sobem em proporção superior a arrecadação tributária. O país passa a conviver com déficits primários (receita menos despesas sem computar o serviço da dívida pública), que sequer cobrirão o serviço da dívida (juros), que aumentarão o endividamento público.

A relação dívida pública com o PIB (Produto Interno Bruto) se eleva, e a desconfiança de que o governo não terá recursos para honrar seus compromissos crescerá, e os agentes econômicos tendem a se proteger em moeda estrangeira, por não confiarem mais na moeda nacional, o Real. Para evitar a fuga de capital os juros deverão subir, oferecendo o necessário prêmio pelo risco.

Moeda estrangeira em alta, contamina os preços como as commodities alimentícias, por exemplo, preços altos que chegam ao consumidor. Em resumo: alta na inflação. Pronto: está instalado o imposto inflacionário.

As mesmas famílias que serão beneficiadas no curto prazo, com uma sensação de maior poder aquisitivo, serão as mesmas famílias que sofrerão com a carestia, notadamente os preços dos alimentos. Criou-se uma ilusão monetária, gerando um ciclo vicioso, que por sinal, já foi realidade no país anos a fio. Isso sem falar que juros altos engessam a economia, e a geração de emprego é adiada.

Gestão de escassez requer escolhas, e o que faz a diferença de um governante para o outro é a capacidade de analisar causa e efeito e pensar do que é melhor para o coletivo e não cumprir promessas de campanha jogadas ao vento sem uma análise prévia.  

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