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Inflação: o que esperar em 2021

“Pequena inflação é como pequena gravidez”. A partir desta frase quero analisar os dados recentes da inflação brasileira e o que esperar em 2021.

O dado mais recente da inflação oficial do Brasil, de novembro, indica taxa de 0,89%. Foi o pior mês de novembro dos últimos 5 anos. No ano a inflação acumula 3,13%, atingindo 4,31% em 12 meses.

O patamar de novembro aparenta ser baixo, mas se esta taxa se repetisse por 12 meses seguidos atingiríamos 11,2% ao ano. É elevado e incompatível com a meta de inflação que é de 4% ao ano, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Para 2021 a meta é de 3,75%. Evidentemente que dificilmente isso ocorrerá posto que a inflação é uma alta sobre a outra e não há espaço para aumento indefinido de todos os preços.

Na prática o País convive com pressão sobre os preços vindo tanto do lado da oferta, bem como da demanda. Do lado da oferta a primeira constatação é que os custos subiram e estão sendo repassados aos preços finais. Neste particular a cotação do dólar pressionou os custos.

Vale destacar que 40% dos preços do IPCA são de alguma maneira indexados ao dólar. Também há insuficiência de oferta. O mesmo dólar que pressiona custos estimula exportações. Sobram menos produtos para o mercado interno. Soma-se a isso a redução geral da produção devido ao controle da pandemia da Covid-19, a oferta de produtos cai efetivamente.

Do lado da demanda há dois importantes fatores, que inclusive validam a alta de preços vindas da oferta: consumidores com demanda reprimida, comprando mais do que vinham comprando, afinal ficaram muito tempo com isolamento social e ainda aumento do poder aquisitivo de milhões de brasileiros que passaram a receber de maneira contínua a ajuda emergencial.

Quando os preços são mais elevados e o consumidor “aceita” esta alta elevando ou mantendo seu consumo, preços ficam nas alturas. São exemplos as altas dos preços de alimentos, bebidas e combustíveis.

A preocupação é com o impacto da elevação de preços de agora na inflação de 2021. Parte da inflação do ano que vem virá da indexação da economia. Muitos preços da economia são reajustados anualmente pelos índices de inflação. Contratos que utilizam o IGP-M, por exemplo, poderão ser reajustados acima de 20% à medida que este índice, devido aos preços no atacado, disparou. Mesmo a indexação pela inflação oficial já tem, inercialmente, impacto importante pela frente.

O que pode frear as altas pelo lado da oferta? Confiança na economia. Neste caso o dólar se estabiliza ou cai, e ainda haverá maior oferta de bens e serviços, quer pelo aumento da produção, quer pela ampliação de ofertantes no mercado. Confiança estimula investimentos produtivos.

Do lado da demanda, com o fim da ajuda emergencial haverá menor pressão de consumo, não obstante a demanda reprimida ainda ser verdadeira, ao menos no primeiro semestre do ano que vem.

Com política monetária ainda frouxa, afinal a economia precisa voltar a crescer, restará a equipe econômica estabilizar a economia com política fiscal austera. Se isso ocorrer, a confiança acima citada, será real e as pressões caem.

Felizmente a preocupação atual da inflação não é mais com patamares elevados, de dois dígitos, mas como colocado no início, “pequena inflação é como pequena gravidez” com o tempo pode crescer. A ciência econômica e os planos econômicos brasileiros já pavimentaram caminho seguro para não cairmos nas armadilhas do passado. Controlar inflação é preservar a renda dos mais pobres, esta tem que ser a prioridade.

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