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Está faltando rigor em uma “perna” do tripé-macroeconômico

O economista Reinaldo Cafeo explica a importância de observar o movimento da economia americana, principalmente, a taxa de juros.

Alguns indicadores econômicos positivos, como queda do desemprego, cotação do dólar, alta na bolsa de valores, entre outros, podem levar os agentes econômicos e parte da imprensa, a entenderem que o país trilha um caminho econômico seguro e que haverá sustentação do crescimento econômico ao longo do governo Lula. Alerto: falta rigor em uma “perna” no tripé-macroeconômico e isso pode colocar em risco o equilibro macroeconômico.

O tripé composto por: metas de inflação, câmbio flexível e forte ajuste fiscal, tem atualmente nas duas primeiras, o rigor necessário. Coincidentemente são as duas metas sob responsabilidade do Banco Central brasileiro, que é autônomo e independente, sendo criticado injustamente pelos principais dirigentes do atual governo, incluindo o presidente Lula, que amplia o ataque, atingindo a pessoa física do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto.

O país observa um processo de desinflação, tanto que o IPCA, inflação oficial, quando anualizada, está próxima de 3%, dentro da meta fixada em 3.25% ao ano. Não obstante as metas de inflação olharem para o futuro, tudo aponta que no ano fechado de 2023 a inflação ficará comportada. No caso da taxa de câmbio, com o mecanismo da oferta e procura por divisas a cotação vem caindo devido ao enfraquecimento do dólar em nível mundial e ainda especulações de investidores estrangeiros no tocante ao comportamento futuro do dólar por aqui.

O problema está no controle das contas públicas, portanto, a “perna” do rigor fiscal não está sendo cumprida, não obstante o déficit público deste ano estar previsto no orçamento da União. Vale lembrar que o Brasil fechou 2022, governo anterior, com superávit primário (receita menos despesas sem computar o serviço da dívida pública) de R$ 54 bilhões. Já o primeiro semestre deste ano, governo Lula, o país fechou com déficit primário de R$ 42,5 bilhões. Se considerarmos a variação no período saindo de sobras primárias de R$ 54 bilhões para déficit primário de R$ 42,5 bi, tem-se R$ 96,5 bilhões, ou seja, se fosse uma empresa, deixou de ter um lucro para ter prejuízo.

Tudo bem que em breve haverá um novo Arcabouço Fiscal e a Reforma Tributária, contudo, o foco de ambas é na arrecadação e não em cortes de despesas, ou seja, baixo rigor fiscal como preconiza o conceito do tripé-macroeconômico. Há dúvidas no tocante a efetividade de ambas.

Talvez isso explique em parte a posição “comprada” em dólar dos investidores estrangeiros. O Brasil observa marca histórica de investidores com esse comportamento: US$ 48,8 bilhões. Estar “comprado” em dólares é esperar que a moeda norte-americana se valorize frente ao Real (R$), portanto, há uma aposta futura de que a “lua de mel” do câmbio acabe, voltando a subir.

E por fim um importante ingrediente: em 2024 o Banco Central terá quatro dirigentes indicados pelo governo Bolsonaro e quatro indicados pelo governo Lula. Mesmo com o voto de minerva do presidente da autarquia, a pressão interna do próprio Banco Central poderá afetar as duas “pernas” do tripé-macroeconômico que estão sob total controle atualmente. Aí teríamos a “tempestade perfeita”, afetando o desempenho econômico do país.

No governo de Dilma Rousseff (PT), o abandono de parte do tripé-macroeconômico levou o país a dois anos de recessão. Fica o alerta.

🌐 reinaldocafeo.com.br

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