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Em economia o que vale é o filme e não o retrato

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Dez em cada dez agentes econômicos se perguntam: a economia brasileira se sustenta? E vão além: os indicadores econômicos positivos terão continuidade? A resposta: em economia o que vale é o filme e não o retrato.

Vamos aos fatos. A previsão do mercado para o crescimento econômico deste ano é acima de 2,0%. O último Boletim Focus, de 14 de agosto de 2023, por exemplo, projeta crescimento da economia de 2,29%. No caso da inflação, com o resultado do IPCA de 0,12% em julho, o acumulado dos últimos 12 meses atinge 3,99%. O Banco Central reduziu em 0,5 ponto percentual a taxa de juros, atingindo agora 13,25% ao ano, sinalizando com novas quedas nas próximas reuniões. A taxa de câmbio, mesmo pressionada nos últimos dias, tem se mantido abaixo de R$ 5,00. A Pnad Contínua, que mede a taxa de desocupação da mão de obra, fechou o segundo trimestre em 8%. As agências de classificação de risco elevaram a nota brasileira, dando um voto de confiança para a política econômica doméstica.

São retratos da economia que poderiam, reforço, poderiam indicar “céu de brigadeiro” para a economia brasileira. Agora vamos ao filme.

A inflação está baixa, contudo, os preços dos combustíveis, que foram artificialmente represados pela Petrobras, tiveram alta nas distribuidoras nessa semana de R$ 0,41 na gasolina e R$ 0,78 no diesel. A alta chegará aos preços finais dos produtos e serviços, pressionando a inflação. Outro fator importante: o núcleo de preços de serviços continua pressionado, e como o setor cresce acima de 12% se comparado ao período pré-pandemia, e não há substitutos internacionais, a pressão na inflação permanece. Além disso, os preços administrados também impactarão os índices futuros, portanto a inflação tende a ser mais elevada. Não é por acaso que o próprio Boletim Focus projeta o IPCA de 4,84% no ano fechado de 2023. A projeção para o ano que é de 3,86%.

A queda do desemprego seria um bom indicador de que o consumo das famílias seria estimulado, lembrando que esta variável responde por quase 70% do PIB brasileiro, contudo o nível de 8% não é no país todo. Há regiões com dois dígitos e regiões com patamar menor do que os 8%. Além disso, há variáveis que impedem o que o consumo cresça: o endividamento das famílias, a inadimplência e a taxa de juros (previsão de virar o ano em 11,75% ao ano, ou seja, queda prevista até dezembro de 1,5 ponto percentual). Na mesma linha do filme, o Boletim Focus projeta crescimento de apenas 1,30% para 2024. Para a Selic é a previsão é de 9% no ano que vem.

No caso do dólar, que influencia parte dos preços da economia, que também influencia a balança comercial e o fluxo de moeda estrangeira no país, pode não se sustentar em níveis abaixo de R$ 5,00. Os juros externos mais elevados, ou juros internos menores, o baixo desempenho da China, e principalmente a questão fiscal brasileira, estão levando os estrangeiros a apostarem na desvalorização da moeda nacional frente ao dólar. Buscam proteção em moeda forte.

Quanto as agências de risco, elevaram sim a nota brasileira, mas com ressalvas e ainda contam com o compromisso do governo Lula de respeitar a questão fiscal, cumprindo fielmente os pilares do Novo Arcabouço fiscal que está em discussão no Congresso Nacional. Será que isso será realidade?

Em resumo: se de um lado há pontos positivos no tocante ao desempenho econômico, retratado nos indicadores de curto prazo, é preciso o olhar em perspectiva, isto é, o filme, e apontar os pontos frágeis que inibem a sustentação do crescimento da economia.

Como esse filme ainda é uma obra inacabada, em execução, é prudente não elogiar e nem tecer críticas exageradas antes que esteja pronto. Os pontos aqui colocados servem para reflexão daqueles que operam o lado real da economia, ou seja, os que geraram riqueza nesse país.    

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