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Deus fez o dólar para manter os economistas humildes

Tem uma frase emblemática que nós economistas devemos aceitar como verdadeira quando se trata de previsão na cotação do dólar: “Deus fez o dólar para manter os economistas humildes”. Até mesmo o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve que se render a esta máxima, quando disse “somente se fizermos muita besteira para o dólar ultrapassar os R$ 5,00”. Ele disse isso em março de 2021, e não somente ultrapassou a barreira dos R$ 5,00, como quase atingiu os R$ 6,00. E nem fizeram tanta besteira assim.

Mesmo me comprometendo a ser humilde, ouso em analisar o que pode ocorrer com a cotação do dólar neste ano.

Se tomarmos a mediana projetada pelo mercado no mais recente Boletim Focus do Banco Central brasileiro, a previsão é que o dólar comercial de venda seja de R$ 5,60 na virada do ano.

Estudos de inúmeras consultorias econômicas e economistas, apontam que a cotação do dólar deverá oscilar este ano entre um mínimo de R$ 5,40 (cenário otimista) e um máximo de R$ 5,90 (cenário pessimista), tendo, assim a confirmação do ponto de equilíbrio em R$ 5,60 (cenário realista).

Vamos entender os cenários. As variáveis que podem influenciar a cotação do dólar para que o cenário otimista se confirme são as seguintes: 1) Atração do capital estrangeiro para o Brasil via baixo risco fiscal; 2) Apetite dos investidores por renda fixa devida a alta dos juros; 3) Apetite dos investidores por renda variável aproveitando o poder de compra da moeda estrangeira frente ao dólar; 4) Aumento do investimento direto, ou seja, recursos externos injetados no setor produtivo brasileiro (como é o caso dos investimentos no 5G). Parte das variáveis aqui listadas jogaram favoráveis a queda da cotação do dólar dias atrás. O movimento do capital estrangeiro fez com a cotação do dólar em determinados dias se aproximasse da mínima prevista (R$ 5,40).

no cenário pessimista temos: 1) Tensão política em ano de eleição, com crescimento de candidaturas que rompam o modelo econômico vigente no país, aumentando a busca por proteção em moeda estrangeira; 2) Aventuras fiscais, aumentando o risco de aumento da relação dívida/PIB; 3) Juros altos em países da elite econômica mundial; 4) Rebaixamento da nota de risco do país por parte de agências internacionais. Neste caso a cotação do dólar chegaria próximo aos R$ 6,00.

Quando tivemos a “novidade” Lula em sua primeira eleição para presidente, em 2002, a cotação do dólar atingiu R$ 4,00 à época, o que seria hoje algo próximo a R$ 8,00. Isso mesmo, o Brasil já teve um dólar a R$ 8,00. Portanto, mesmo no pior cenário a cotação do dólar seria cerca de 26% menor do que foi naquela época. É claro que os principais indicadores atuais se adaptaram a um dólar mais baixo, mas vale o registro.

Como neste momento as maiores chances de eleição estão entre Lula e Bolsonaro, considerando que nenhum dos dois são novidades, e que sinalizam com alianças com políticos de A à Z, me parece plausível acreditar nestes cenários e que, mesmo com oscilações entre o mínimo o máximo aqui colocado, podemos, após as eleições, virar o ano com o dólar R$ 5,60.

Mas que fique claro uma coisa: se nada disso ocorrer, agradecerei a Deus por ter inventado o dólar para me forçar a ser mais humilde.

? www.reinaldocafeo.com.br

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