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Desinflação

A pandemia do novo coronavírus trouxe o desequilíbrio entre oferta e procura por bens e serviços, e a maior parte das economias mundiais passou a conviver com alta de preços, portanto, a inflação passou a fazer parte do cotidiano das pessoas.

O Brasil fechou 2021 com inflação de 10,06%. A Argentina acumulou até novembro (não divulgou ainda dezembro) 51,2% em 12 meses. A Turquia apurou inflação em 2021 de 36,08%. Nos Estados Unidos o acumulado do ano passado atingiu 7%, maior patamar em 40 anos. Na Zona do Euro inflação atingiu 5%.

Diante deste quadro os Banco Centrais passaram a utilizar a chamada política monetária restritiva. Vale destacar que os juros, por exemplo, despencaram em 2020 ápice da pandemia. Naquele momento a prioridade era evitar que a recessão fosse mais forte do que era sinalizado. Efetivamente o impacto negativo na economia foi atenuado, contudo, os desequilíbrios já estavam instalados na economia.

Com preços em alta os juros foram gradativamente elevados, como colocado, e a liquidez do mercado passou a ser monitorado de perto, sendo que este movimento ainda não foi totalmente concretizado. Aqui no Brasil, por exemplo, a projeção é de que a taxa básica de juros, que já foi de 2% em 2020, e agora está em 9,25% ao ano, atinja 11,75% até o fim do ano. Nos Estados Unidos o indicativo é de que os juros subam ao menos 0,25 ponto percentual já em março, além da redução dos estímulos monetários atualmente praticados pelo Banco Central americano.

O resultado do uso deste instrumento de política macroeconômica é dar início a desinflação. Observe que não estamos falando de redução dos preços dos produtos e serviços, que no caso seria deflação. O que está sendo buscado é frear gradativamente a alta dos preços. Os preços sobem, contudo, em menor escala ou até mesmo se estabilizem.

Dentro de uma normalidade, a projeção é que os reflexos das decisões dos Banco Centrais no tocante a política monetária, sejam sentidos no segundo trimestre deste ano, com a inflação perdendo força. Neste momento é fundamental introduzir um importante conceito econômico, na verdade uma condição para que isso seja verdade: a condição ceteris paribus, isto é, que nenhuma variável interfira. E quais são as variáveis preocupantes? Uma delas, já sentida nesta semana, são os preços dos combustíveis. Com tensionamento geopolítico nos Emirados Árabes e na Rússia, tendo ainda o cartel da OPEP (Organização dos Países Produtores e Exportadores de Petróleo), o preço do barril de petróleo está em alta no mundo. 

Além da pressão dos preços do petróleo, aqui no Brasil o risco fiscal também pode retardar que tenhamos a desinflação. A pressão dos servidores públicos federais por reajuste salarial cria expectativas negativas tanto na execução orçamentária, portanto na política fiscal, com no ambiente político. Isso em algum momento será precificado na cotação do dólar, que poderá contaminar os já contaminados preços dos produtos indexados a esta moeda.

Em resumo: tudo indica que as economias que estão utilizando os instrumentos de política econômica para controlar a inflação em algum momento terão sucesso, e certamente não repetirão o patamar de inflação do ano passado, por outro lado, as variáveis incontroláveis podem esticar por um período maior o tempo para que a desinflação ocorra.

No caso brasileiro, o setor público, os políticos em especial, podem contribuir, e muito, evitando gerar tensões que prejudiquem a volta à normalidade do mercado.

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