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A liturgia do cargo

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A expressão “liturgia do cargo” se popularizou quando o ex-presidente José Sarney assumiu a presidência da República após a morte do presidente eleito, Tancredo Neves. Isso foi lá em 1985 e o mandato de Sarney, na época vice de Tancredo, foi até 1989.

Do ponto de vista econômico Sarney poderia ter ficado para a história com o presidente que derrubou a hiperinflação brasileira, afinal, o Plano Cruzado teve uma adesão e um sucesso inicial junto a população, mas por puro projeto de poder, manteve o congelamento de preços mais tempo do que deveria, a inflação que foi combatida inicial, voltou. Nem os Planos Cruzado 2, Bresser e Verão, foram capazes de conter a escalada de preços.

Voltando a “liturgia do cargo”. Sarney fez uma alusão ao tema utilizando-se da realidade da igreja católica. Ele usou das práticas de um culto religioso para moldar seu comportamento no serviço público.

Desde então há um dilema nesta questão: até onde o comportamento na vida privada se confunde com o da vida pública.

Não há dúvida que assumir um cargo, tanto no Executivo, como Legislativo e no Judiciário, exige do empossado um comportamento, diria mais polido, menos impulsivo, mais comedido. Infelizmente não é isso que se vê na prática.

Se analisarmos os comportamentos tanto de Lula como de Bolsonaro, enquanto presidentes da República, a liturgia do cargo passou ao largo. Não se comportam e nem se comportaram como Estadistas. Declarações tendenciosas, brincadeiras inapropriadas, vocabulário chulo, são alguns comportamentos inapropriados para quem dirige o país. No judiciário, um Ministro da Suprema Corte ao comparar decisões judiciais com decisões no âmbito do futebol, ou ainda se comportar como comentarista de tudo, ou falar a alguém que o questiona sobre um determinado tema e ouve “perdeu mané”, distancia-o, e muito da “liturgia do cargo”.

O recente caso do Deputado Federal, Nikolas Ferreira, vai nesta linha. Ao usar uma peruca em sua fala no Congresso, não cumpriu a “liturgia do cargo”, afinal, tratou de um tema importante, com deboche.

Quando algum político, um agente público, em qualquer esfera de governo e até mesmo um CEO de uma empresa, não seguem a “liturgia do cargo”, passam insegurança, geram desconfiança e perdem credibilidade.

No âmbito das cidades, não atender demandas do legislativo, não abrir diálogo com a sociedade para discutir os graves problemas destas cidades, falando somente para suas bolhas em redes sociais, não aceitando as cobranças da imprensa, atropelando processos, utilizando-se de dois pesos e duas medidas, no famoso “aos amigos tudo e aos inimigos a lei”, são alguns pontos importantes para reflexão.

No passado não distante as autoridades constituídas eram respeitadas porque quando assumiam posições importantes na sociedade, eram respeitosos com todos, e com isso também eram respeitadas por todos e sempre, dentro da “liturgia do cargo”, discutiam os vários temas de interesse coletivo em foro adequado, sem se preocupar quantas curtidas terão, como será o engajamento e quantos seguidores adicionais alcançará.

Para alguns o tempo cronológico não ensinou nada, e mesmo mais “maduros”, continuam atropelando a “liturgia do cargo”, para outros, mais novos, que deveriam aprender com os erros, por se sentirem acima do bem e do mal, continuam a cometer os mesmos erros.

Uma coisa é certa: tudo isso tem um preço: ou maculam a Instituição que atuam e seus próprios currículos, ou, no caso de políticos, a urnas penalizarão. 

A sociedade está cada vez mais crítica e sabe avaliar quem cumpre e quem não cumpre a “liturgia do cargo”.  

? www.reinaldocafeo.com.br

Uma resposta

  1. Como sempre Cafeo você foi muito preciso. A falta da “liturgia do cargo” demonstra a crise social e consequentemente polícia, econômica e entre outras. Recentemente assisti no YouTube uma entrevista de um rádio do Estado do Paraná o Filósofo e Professor Mário Sérgio Cortella respondendo ao repórter, ao indaga-lo sobre todo esse “borbulhar” da sociedade diante da falta de ética dos políticos não o incomodava? O qual respondeu que..” ao contrário porque derepente acendemos a luz e enxergamos os ratos passeando de um lado ao outro…Vivo esse momento com muita satisfação o povo esta aprendendo a cobrar o correto”. Grande abraço.

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