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A inflação precisa ser entendida em sua real dimensão

Aparentemente o Brasil tinha se livrado do fantasma da inflação, posto que o Plano Real conseguiu derrubar os índices inflacionários abaixo de dois dígitos anuais, mas dadas as características da economia brasileira, e mais recentemente os desequilíbrios entre oferta e procura provocados pela pandemia e o conflite entre Rússia e Ucrânia, o tema voltou a tomar boa parte do noticiário econômico, e mais que isso, a carestia passou atingir o bolso dos brasileiros.

Vale salientar que os efeitos da pandemia e do conflito estão sendo sentido em boa parte dos países, incluindo os Estados Unidos, Europa e outras continentes. Isso posto, vamos entender a real dimensão da inflação. A inflação é a perda do poder aquisitivo da moeda local devido à alta de preços. São aumentos contínuos e que atingem quase todos os preços da economia.

As causas “clássicas” da inflação são: aumento dos gastos públicos com necessidade de aumento de tributos (aumentam os custos das empresas que são repassados a preços); poucos ofertantes no mercado (fruto da concentração e até formação de cartéis); baixo nível de produção; aumento excessivo de exportações de produtos não-excedentes; indexação dos preços (dólar, inflação passada, por exemplo) e aumento de custos de produção sem aumento na produtividade. Desta maneira a inflação pode ser tanto pelo lado da oferta (repasse do aumento de custos aos preços ou insuficiência de oferta) ou pela demanda (aumento da demanda do consumidor).

O IPCA, por exemplo, índice oficial de inflação no Brasil abrange 377 produtos e serviços. São divididos em grupos: alimentação e bebidas (da alimentação básica, como arroz e feijão, a bacalhau, chegando a computar o preço até do vinho e sorvete); habitação (gastos na casa, incluindo papel toalha, saco de lixo, pedras, entre outros); artigos de residência (de conserto de bicicleta até vídeo game, entre outros); educação (livros, mensalidade escolares); saúde e cuidados pessoais (remédios e até óculos de grau, entre outros); transportes (combustíveis, passagens de ônibus, entre outros); vestuário (roupas, mochilas, chinelo, entre outros); comunicação (serviços de streaming, tv por assinatura, internet, entre outros) e despesas pessoais (serviço de higiene em animais, corte de cabelo, cinema, teatro, entre outros).

É exatamente no entendimento dos grupos que mais fácil analisar, por exemplo, o efeito dos juros na inflação. Os Bancos Centrais pelo mundo, entre eles o do Brasil e dos Estados Unidos, vêm aumentando os juros para combater a inflação. Observem que o efeito direto dos juros não se dá em todos os grupos que compõem o IPCA. Eles vão atingir os produtos financiáveis. Também irão estimular as famílias a aplicarem no mercado os recursos disponíveis, adiando o consumo.

E aqui vem o que aparenta ser contradição do atual governo, mas ao meu juízo, não é: Banco Central aumentou a taxa de juros, e o governo liberou recursos do FGTS e vai adiantar o décimo terceiro salário dos aposentados e pensionistas. Houve até especulações de que a ala econômica do governo teria tido um embate com a ala política do governo. O pano de fundo seria tentar conter o consumo via aumento dos juros, e fazer circular mais dinheiro se contraporia a esta lógica.

Por que entendo não ser contradição? Pela análise dos produtos que compõem a inflação. o dinheiro do FGTS e do décimo terceiro totalizam algo próximo a R$ 150 bilhões. Irão repor parte da perda do orçamento das famílias. Serão canalizados para bens essenciais, portanto, não são atingidos pelos juros. Já os juros terão efeitos, que derrubarão preços de bens duráveis, que na média (ponderada), podem derrubar a inflação. Claro que maior consumo de bens de consumo pode inibir queda no preço, mas com famílias endividadas, isso não deve ser a realidade.

De qualquer maneira o momento é delicado e o governo não pode descuidar da inflação, pois nossa memória inflacionária ainda está presente. Fica ao menos a reflexão sobre a real dimensão da inflação.

? www.reinaldocafeo.com.br

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