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O popular e o populista

O enredo é o seguinte: Dia da Indústria, recebido pelas Entidades representativas do setor e como presidente da República tenho que fazer algum agrado. O que farei? Vou sinalizar com incentivos fiscais a indústria automotiva. Como assim? Vamos subsidiar, ou seja, conceder incentivos fiscais para a venda de carros populares. E agora? Ministro Haddad, da Fazenda, que se vire.

Foi bem assim que tudo aconteceu. Não bastasse um governo que não se preparou para governar, que teve que ampliar o número de ministérios para 37 a fim de acomodar a “turma toda”, que não tinha um plano para economia e está “abastecendo o avião em pleno voo”, vide o novo Arcabouço Fiscal, agora tem que dar um jeito de atender o aceno do presidente Lula.

Depois de muito analisar, e também em função da péssima repercussão no mercado, visando não ficar “mal na fita” ampliou-se o incentivo: atingirá também vendas de ônibus e caminhões.

Haddad tendo que atender ao “patrão” foi buscar uma fonte de financiamento. Eis que teve a “brilhante” ideia: vamos antecipar a reoneração do diesel que ocorreria somente o ano que vem e com isso atendemos a demanda do presidente e ainda pode sobrar algum troco para ajudar a cobrir o déficit fiscal provocado por nós mesmos. O valor do incentivo ao setor é de R$ 1,5 bilhão de reais.

Quais as consequências da decisão? O primeiro aspecto é que mesmo barateando o valor dos carros de entrada das várias montadoras, que de popular não têm nada, o preço final não será nada “popular”, ficando na casa dos R$ 60 mil. Se considerarmos que além deste valor tem IPVA, seguro, licenciamento e ainda que boa parte irá financiar com taxas de juros salgadas, o pobre, público-alvo da medida, não conseguirá acessar o veículo. Mirou uma classe social, atingirá outra.

No caso dos ônibus e caminhões, pode até auxiliar na renovação da frota, o que é bom, mas tira com uma mão e coloca com a outra. Qual o combustível desses veículos? O diesel. Qual combustível que subirá de preço com a reoneração? O diesel. Então é assim: compro o veículo com subsídio só que gasto o incentivo pagando mais para rodar!

Se fossem somente esses aspectos, vamos lá. Um governo que se diz “ambientalmente correto”, como é possível incentivar a venda de veículos que usam combustível fóssil? Incoerência.

Tem mais. O diesel é o combustível do transporte brasileiro. O país escoa cerca de 75% da produção de alimentos via terrestre, com caminhões movidos a diesel. Então teremos: diesel mais caro implica em frete mais caro. Frete mais caro é repassado ao preço final dos produtos. Preços mais altos dos produtos, geram inflação. Os preços dos alimentos ficarão mais caro penalizando os mais pobres que consomem a maior parte da renda com essa classe de produto. E, visando controlar a inflação, o Banco Central manterá a taxa de juros elevada, segurando o preço dos bens financiáveis, para compensar a alta no preço dos alimentos. A economia não cresce, o desemprego se acentua, e penaliza novamente os mais pobres e outras segmentos da sociedade.

Esse ciclo qualquer pessoa com um conhecimento mediano de cadeia produtiva sabe como irá impactar na economia.

A conclusão que chegamos: é o carro popular atendendo ao “populismo” de Lula, contudo, decisão equivocada e sem prioridade alguma para esse momento.

Isso tudo só confirma que o presidente Lula parou no tempo e tenta, 20 anos depois, introduzir medidas que o tempo se encarregou de mostrar que, se um dia funcionou, se é que funcionou, hoje não funciona mais.

O mundo mudou, mas Lula não.

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