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Causas da inflação no Brasil são diferentes de outros países

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Continuam os ataques do governo Federal e de seus aliados ao Banco Central (BC) e sua autonomia. O alvo preferencial é o economista Roberto Campos Neto que comanda o BC.

Tudo porque o atual governo não aceita que a política monetária adotada pela Autoridade Monetária seja restritiva. Por esse prisma tentam comparar a taxa de juros praticada no Brasil com a de outros países, tomando como base a chamada taxa real de juros, ou seja, o patamar dos juros acima da inflação.

Em termos de juros reais analisando o acumulado em 12 meses fechados em março desse ano, o Brasil lidera o ranking mundial com taxa de 6,94% ao ano. Em seguida vem o México com 6,05%, depois o Chile com 4,92%, entre outros países.

Quando o comparativo é somente a taxa real e não são analisadas as causas da inflação em cada país, a avaliação pode ser considerada parcial.

Indo direto ao ponto: por que o Brasil pratica a maior taxa básica de juros entre as principais economias mundiais? Vamos analisar esse ponto.

O índice de inflação leva em conta o perfil de consumo das famílias e é fixada uma faixa salarial. No caso da inflação oficial do Brasil, o IPCA, é considerada a faixa de 1 a 40 salários mínimos. São quase 450 itens pesquisados pelo IBGE. Também há regionalização dos produtos e serviços considerados. Aqui a primeira observação: o que o americano consome, por exemplo, é diferente do que o brasileiro consome, que é diferente do alemão e de outras países. Desta maneira não são comparados os mesmos itens. Também o peso de cada item e o peso de cada grupo de produtos são diferentes entre os países.

Além desses aspectos o Brasil durante décadas conviveu com inflação elevada e criou o que podemos chamar de cultura inflacionária. Isso leva os agentes econômicos a um comportamento preventivo, ou seja, a qualquer sinal de alta de preços se antecipam. Também o Brasil mantém a indexação de parte dos preços da economia. São exemplos de preços indexados a inflação passada ou outro indexador: aluguéis, pedágios, mensalidade escolar, planos de saúde, remédios, e até salários. Periodicamente são reajustados e quanto maior for a inflação passada, maior será a inflação futura, é a tal da inércia inflacionária.

Devemos ainda considerar a estrutura de mercado no Brasil. A maior parte dos produtos e serviços é ofertada em mercados imperfeitos, como os monopólios e principalmente oligopólios. Esses tipos de estrutura de mercado podem manipular preços, e até formar ilegalmente cartéis. É a chamada concentração de mercado, tais como os setores de telefonia, medicamentos, construção civil e tantos outros.

Se tudo isso não bastasse o país tem ainda parte dos preços indexadas em dólar. Aqui cabe um recorte: não dá para comparar a dinâmica de preços em Reais com a dinâmica de preços em Dólar, como é o caso, por exemplo, dos Estados Unidos.

Outro aspecto é o nível de risco-Brasil. Se o país tem um governo pouco comprometido com o rigor fiscal, ou seja, é gastador, as incertezas no tocante a política econômica são evidentes, e para mitigar o risco, oferece-se um prêmio, isto é, aumento dos juros.

E um importante componente: a demanda reprimida e o nível de oferta de bens e serviços. Em um país em que o grosso da população tem baixa renda, qualquer incremento de renda, como o aumento do salário mínimo e a ampliação dos valores do Bolsa Família, entre outros, eleva o consumo devido a elevada propensão marginal a consumir, trazendo como resultante elevação de preços. Em outras palavras: incremento de renda, leva ao aumento de consumo, sem resposta imediata da oferta agregada, os preços sobem e a inflação não cede.

Por tudo isso a conclusão só pode ir para um caminho: o Banco Central está correto e manter o rigor monetário, buscando atingir a meta de inflação, e com isso evitar penalizar os mais pobres com a carestia.

O resto é politicagem de quem já elegeu o eventual culpado pelo insucesso da política econômica: o Banco Central brasileiro. Só não enxerga quem não quer.

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