Setor externo derruba a cotação do dólar

O economista Reinaldo Cafeo explica a importância de observar o movimento da economia americana, principalmente, a taxa de juros.

Quem acompanha o mercado financeiro tem observado que a cotação do dólar tem oscilado na casa dos R$ 4,80, e em alguns momentos até inferior a esse patamar. E muitos se perguntam: quais os motivos para essa queda? A resposta vem do setor externo.

O primeiro fator é o enfraquecimento do dólar no mundo todo. Com a recente decisão do Banco Central americano em manter a taxa básica de juros oscilando entre 5,00% e 5,25% ao ano, diminuiu a entrada de dólares nos Estados Unidos. Os investidores abrem o leque, e buscam países emergentes, como o Brasil, que oferecem retornos maiores.

Com a alta de juros na Zona do Euro o dólar se enfraquece mais uma vez. A China, mesmo crescendo menos e tendo tomado decisão conservadora na redução dos juros, é um importante player no mercado, e a perspectiva de estímulos monetários por lá, movimenta os mercados exportadores, principalmente no tocante aos commodities. Reflexo importante aqui no Brasil.

Portanto, do lado externo da economia brasileira tem-se como principais motivos para derrubar a cotação do dólar aqui no Brasil: o menor apetite dos investidores em canalizar recursos para os Estados Unidos, ainda o enfraquecimento do dólar na Zona do Euro e o aumento das exportações de commodities dos emergentes, como o Brasil.

Além do setor externo internamente há alguns fatores internos que elevam a oferta de moeda estrangeiro, bem como a diminuição da demanda por divisas. O primeiro fator já foi mencionado acima: maior retorno para o capital especulativo. O diferencial de juros no Brasil em relação aos Estados Unidos é favorável ao Brasil e com a taxa de juros real (descontada a inflação) elevada, o capital estrangeiro está entrando fortemente no país. A renda fixa é um destino dos recursos, e a bolsa de valores é outro destino. Neste particular, a constatação é que os preços das ações na B3 estão baixos, ou seja, “baratos”, abrindo oportunidades de ganhos.

Também há que se considerar o aprimoramento do texto do novo Arcabouço Fiscal promovido pelo Senado Federal. Apesar, a meu juízo, de o Teto de Gastos ser melhor do que a proposta do atual governo, o fato de introduzir no texto original maior rigor no controle dos gastos públicos, sinaliza que a política fiscal não será tão frouxa como o governo Federal deseja.

Outro fator foi a revisão para melhor no risco-Brasil. A agência de avaliação de risco, S&P, aumentou a nota brasileira, depois de analisar o contexto geral da economia brasileira, começando com a responsabilidade fiscal no governo transitório de Michel Temer, passando pela Reforma da Previdência no governo Bolsonaro, ainda no governo Bolsonaro mesmo em ambiente de pandemia, o país fechou o ano com superávit primário. A agência entendeu como positivo todo esse esforço, apesar de apontar que as reformas precisam ser levadas a frente. Neste particular, é possível que em julho saia do papel a Reforma Tributária, que se não for a ideal, será a possível.

E deve-se ainda destacar o esforço do Banco Central brasileiro em controlar a inflação, cujo processo de desinflação está em curso.

Em resumo: no curto prazo há motivos mais que suficientes para que o mercado financeiro tenha menor volatilidade e com isso os indicadores diários do mercado financeiro, como dólar e bolsa tenham comportamento positivo.

E a pergunta que não quer calar: está estabelecida tendência de dólar baixo e bolsa em alta? Em um país como o Brasil que tem tantos desafios pela frente, e tendo ainda pela frente mais 3 anos e meio de um governo que entende que o Estado tem que ser o indutor do crescimento econômico, não dá para cravar que teremos céu de brigadeiro pela frente, mesmo porque, o setor externo, variável incontrolável, é que tem dado o tom no movimento do capital estrangeiro.

🌐 www.reinaldocafeo.com.br

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