Muitos já devem ter ouvido falar que é preciso pensar “fora da caixa”, olhar as coisas e as organizações com outro olhar, até mesmo agregar valor a algo que historicamente se repete sem resultados adequados. Estamos falando de quebrar o paradigma, que neste contexto é seria fazer algo diferente do que vem sendo feito.
O cidadão brasileiro em boa parte é conservador. Normalmente afirma ter a posse de algo que efetivamente nunca lhe pertenceu. No âmbito do município indicar uma simples discussão para que a sociedade possa fazer sua escolha entre vários modelos de gestão passa a ser um tabu de tamanha grandeza que nos leva a refletir a quem efetivamente interessa tanta resistência.
Sem dúvida alguma uma classe política, que pretende se perpetuar no poder, falar por exemplo, em concessão do serviço público é algo proibido. Pensam assim: como posso perder o voto daquele servidor público, ou apoio daquele sindicato de empregados, se eu der sinal verde a uma discussão que pode ao final, demonstrar que o setor privado pode administrar uma atual empresa pública com mais eficiência e eficácia?
O mais fácil, muito ligado aos que gostam do populismo, é alisar em favor do pelo, mantendo o status quo, deixando de lado discussões que podem de alguma maneira “manchar” sua imagem de defensor da coisa pública.
Especificamente na questão da gestão do DAE, já foi dado início a um movimento que já decidiu por todos nós cidadãos pagadores de impostos: o DAE é nosso e ninguém pode sequer pensar em discutir um eventual novo modelo de gestão.
A chamada Frente Parlamentar municipal já começa indicando a que veio: amordaçar àqueles que com interesse coletivo, querem ao menos analisar três possibilidades: 1- Seguir com o modelo de gestão atual; 2- Propor, como parece indicar no novo Presidente do DAE, um novo modelo de gestão e 3- Análise do custo/benefício de uma eventual concessão. Qual é o problema de abrir o debate? Se a manutenção do DAE no modelo atual é tão boa, qual é o receio em debater? O cidadão está contente com os serviços do DAE ao ponto de já decretarmos que não é possível pensar “fora da caixa”?
Além da Frente Parlamentar Municipal indicar a falta de diálogo, ainda se utiliza dos recursos do pagador de impostos para levar em frente suas ideias. Confundem a Câmara Municipal, com seus partidos políticos.
Pergunto: qual cidadão, qual Entidade privada, pode utilizar a Assessoria de Imprensa, as instalações da Câmara Municipal, o suporte de uma rádio e uma TV para expor suas ideias? A frente sinaliza até que irá propor um encontro no pátio do DAE. Qualquer cidadão ou qualquer Entidade representativa pode utilizar as instalações do DAE para debates sobre seu futuro? Querem se posicionar como Frente Parlamentar, então utilizem os recursos de seus partidos, por sinal, também pagos pela sociedade. Ao menos se colocarão como independentes.
Na verdade, o País convive, e a cidade não é diferente, com uma escassez de lideranças. Na classe política então isso fica mais evidenciado. Com as perdas que o setor privado observou e observa devido a pandemia, com decisões impostas para isolamento, distanciamento social e até mesmo fechamento das atividades produtivas, o setor privado encolheu, e se manter “empregado” no setor público, passou a ser meio de vida. Assim, para se manter no poder, tudo é possível, até mesmo, criar um movimento utilizando a estrutura da Câmara e que tentar evitar o debate saudável. Já decidiram por todos nós.
Diante deste cenário não imaginem que Bauru será uma cidade cosmopolita, aberta, inovadora, eficiente, com atração de investimentos produtivos. Seremos sempre reféns de um passado em que mamar no setor público fazia algum sentido.
O mundo mudou e quem efetivamente pensa no futuro desta cidade tem que estar aberto ao novo. Quebrar paradigmas é um bom início para que as coisas efetivamente possam mudar.
Reforço a pergunta: qual o problema de a cidade discutir ao menos três opções para o futuro do DAE?