Muitas pessoas comparam a taxa básica de juros do Brasil com a de outros países e principalmente com as taxas praticadas nos Estados Unidos e perguntam: por que a taxa do Brasil é tão mais alta?
Antes de buscar resposta a esta indagação vale destacar que não estamos falando da taxa de juros na ponta, principalmente para o tomador de recursos do mercado financeiro, este é outro capítulo, estamos falando da taxa oferecida pelo setor público para financiar sua dívida, a denominada taxa Selic.
Nos Estados Unidos as taxas oscilam entre 5,25% e 5,50% ao ano e são consideradas elevadas para os padrões americanos. Devido aos desequilíbrios provocados pela pandemia, eles não conseguiram recolocar a inflação no centro da meta, que é fixada em 2% ao ano. Atualmente está na casa dos 3,5% nos últimos 12 meses.
O Brasil pratica uma taxa 5 pontos percentuais superior a taxa americana e persegue uma taxa de inflação de 3% ao ano, que atualmente está um pouco abaixo dos 4,0% no acumulado em 12 meses. Por analogia com os Estados Unidos, o Brasil deveria praticar uma taxa básica na ordem de 6,0% a 6,50% ao ano, afinal, a meta aqui é 1 ponto percentual superior à meta americana, mas não há simetria entre elas.
A questão técnica que envolve a decisão de juros no Brasil leva em conta as características econômicas locais. Primeiramente devemos considerar que a estrutura de mercado no Brasil é composta de ofertantes que operam em mercados imperfeitos, como o monopólio e oligopólio, isso quer dizer que há forte concentração de oferta em setores importantes da economia. Bem diferente da realidade americana. Os preços não são tão livres como lá.
Outro aspecto é que estamos comparando produtos cotados em dólares com produtos cotados em reais. Como para comprar um dólar precisamos de cinco reais, por si só as diferenças estão postas.
Devemos ainda considerar que a economia norte-americana é a maior do mundo, com a moeda aceita internacionalmente, diferentemente do Brasil, portanto, o risco em comprar títulos públicos americanos é praticamente zero. Não é o caso do Brasil. Pela nossa nota de risco, na casa dos 200 pontos, qualquer investidor estrangeiro, exigirá de saída 2 pontos percentuais a mais do que a taxa de países menos arriscados.
E agora vem as explicações da realidade da economia brasileira. Em recente entrevista o presidente do Banco Central. Roberto Campos Neto, trouxe luz sobre o comportamento do investidor estrangeiro.
Além do prêmio de risco, como colocado, na ordem de 2 pontos percentuais acima da taxa americana, o investidor estrangeiro analisa a trajetória da dívida pública, que no caso brasileiro é de alta, portanto, mais uma variável a elevar os juros.
O outro ponto é avaliar que, já que a dívida cresce, se há espaço para elevar a carga tributária, gerando mais receitas ao governo. Novo ponto negativo, afinal, já praticamos uma das maiores cargas tributárias do mundo. Outra variável a ser considerada é: o país tem condições de sustentar o crescimento econômico?
Se a resposta fosse sim, o crescimento do PIB compensaria o crescimento da dívida pública. Novamente a resposta é negativa. O Brasil não criou condições para sustentar o crescimento no longo prazo em níveis elevados. E finalmente é avaliada a qualidade do gasto público. Não precisamos nem perder muito tempo com a análise desta variável, todos nós sentimos na pele o quão precário é o serviço do setor público.
A conclusão é uma só: podemos até ter inflação de primeiro mundo, mas enquanto tivermos uma estrutura de Estado precária e uma economia com tantas fraquezas, a taxa de juros será mais elevada do que países de primeiro mundo. Esta é a triste realidade.
Uma resposta
Reinaldo, obrigado pela aula.