Pois é sou o mais “novo” idoso do pedaço: cheguei aos 60 anos e, como dizem os amigos, com “corpinho de 59”. Brincadeiras à parte tenho a impressão de que o tempo passou muito rapidamente e este último ano de pandemia, mais ainda.
Lembro-me como se fosse hoje a ansiedade em tirar a Carteira Nacional de Habilitação e naquela época a primeira renovação se daria somente aos 40 anos. Dos 18 anos até os 40 anos parecia uma eternidade. E lá se foram os 40, os 50 e agora os 60 anos.
Afinal o que significa este tempo cronológico? Como é ter um Estatuto do Idoso para oferecer benefícios que até então eu não tinha? Como será utilizar as vagas especiais, ser preferencial em vários serviços? Em algo que me inquieta: como é na prática envelhecer?
Vamos nos concentrar neste último tema: o que é na prática envelhecer. Penso que se o significado de envelhecimento não for traduzido em se tornar mais experiente perderá o sentido.
Adquirir experiência tem a ver com passar a fazer melhores escolhas. É não precisar usar a tentativa e erro, é evitar entrar em buracos e abismos, que já foram percorridos. Ser experiente é estar calejado no tocante aos ideais. Ao contrário de muitos que chegam na terceira idade, ser experiente é ter um olhar mais coletivo, menos individualista.
Ser experiente é não tolerar injustiça e tampouco devaneios de quem busca em seu próprio interesse cercear o direito dos outros. Ser experiente é praticar a visão 360 graus, analisando “fora da caixa” todas as possibilidades. A seletividade faz parte deste contexto.
A experiência também nos dá todas as condições de eventualmente falar “não” quando a relação custo/benefício é desfavorável. Ser experiente é valorizar a família, os poucos, mas fundamentais amigos. Ser experiente é olhar para trás e ter a consciência de que, boa parte do que sou agora, foi fruto de decisões que se não foram tomadas na plenitude da sabedoria, que ao menos me trouxe a um porto seguro.
A vida não foi e não é fácil. Momentos tristes, perdas, ganhos, frustrações, vitórias, derrotas, e mesmo nas derrotas uma coisa me orgulho em dizer: sempre caí em pé. Isso permitiu me dar impulso suficiente para tentar novamente. E cada derrota, a cada marca nestes 60 anos, um novo aprendizado.
E é assim que me vejo daqui para frente. Sei que o tempo de vida será menor do que o tempo já vivido, mas quero aproveitar cada instante para valorizar o fato de estar vivo, ficar mais próximo de minha esposa, filhas, enteados, enfim, de minha família e dos amigos, para celebrar na plenitude o dom da vida.
Mesmo com tantas coisas vividas e vivenciadas uma coisa eu tenho a certeza: é preciso aprender sempre, é preciso estar aberto ao novo, é preciso se reinventar constantemente.
Como dizem: envelhecer não é bom, mas a alternativa é pior, então que venham tantos anos quantos Deus permitir (e eu contribuir cuidando da saúde) e que sejam luz de aprendizado.
Refazendo a brincadeira inicial: 60 anos com corpinho de 50, ao menos me sinto assim! Viva a vida e que passe logo esta pandemia para abraçar todos que compartilharam digitalmente comigo a alegria de me sentir, mais do que um idoso, um homem experiente que ama intensamente todos que me cercam e tudo que faço! Está aí o depoimento do mais “novo” idoso do pedaço.