A emancipação do cidadão, e diria de um país, se dá com investimentos em áreas estratégicas. Em um sistema capitalista, em que a ascensão social pode ser exercida livremente, o investimento em educação é fundamental.
Adquirir conhecimento, desenvolver senso crítico, especializar-se, enfim, exercer uma profissão em sua plenitude, garantem mudança de patamar no tocante ao padrão de vida dos cidadãos.
Pessoas simples, com infância com poucos recursos, conseguem romper com este modelo, e no trabalho, colocando em prática o conhecimento adquirido, passam a ter e oferecer aos seus uma vida materialmente melhor. Por este prisma construiremos uma Nação e não somente um País.
Outro ponto fundamental, neste caso, para gerar independência tecnológica, é o investimento em ciência e tecnologia. O setor privado já o faz, mas não é o suficiente para que esta independência seja verdadeira. O setor público tem que ser o indutor deste investimento.
Se no passado a teoria das vantagens comparativas preconizada pelo economista David Ricardo (1772-1823) indicava que cada país deveria se concentrar no que faz de melhor, e trocar produtos e serviços com outros países, especialistas em outras áreas, hoje, com o avanço tecnológico a realidade é outra.
Não há mais espaço para um país do tamanho do Brasil ser um importante player no agronegócio e depender de países desenvolvidos, para por exemplo, acessar produtos que exigem elevada tecnologia. Neste modelo o Brasil passa a ser refém de poucos países, e estes não se tornam reféns de ninguém, porque possuem um leque maior de vendedores de commodities agrícolas. Em resumo: eles escolhem e nós somos escolhidos.
A média mundial de investimento em ciência e tecnologia é de 1,79% do Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil investe entre 1,0% e 1,2%. O setor público investe menos ainda e agora veio a notícia que o Congresso Nacional, com o aval da Equipe Econômica do governo Federal, retirará R$ 690 milhões da pasta do bauruense Marcos Pontes, Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, repassando para outras pastas. Inversão total de valores.
Já ocorreram manifestações contrárias a esta decisão, principalmente as Entidades ligadas a área de Ciência e Tecnologia, mas é pouco. A sociedade como um todo precisa reagir.
Lembro-me na minha infância que diziam: “o Brasil é o País do futuro”. Este futuro não chegou até agora, e a continuar investindo mal em educação e agora em ciência tecnologia, este futuro nunca chegará.
Acabar com a dependência de poucos países no tocante a tecnologia, criar condições internas para substituir importações, melhorar a pauta de exportações agregando valor aos produtos, e ainda estabelecer uma política de retenção dos cientistas (que são forjados em sua maioria em escolas públicas e são “presas” fáceis para as empresas sediadas fora do país) é o mínimo a fazer.
Que o corte no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação sirva de alerta para cobrarmos decisões menos políticas e mais técnicas de nossos representantes políticos.
O que está em jogo é a mudança de paradigma e a independência tecnológica do Brasil. Vamos cobrar recursos para que isso efetivamente ocorra.