O Banco Central brasileiro não cumpriu a meta de inflação fixada pela Conselho Monetário Nacional. A meta é de 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Pelo sistema de metas, o BC tem de calibrar os juros para tentar manter a inflação dentro do intervalo existente. Para isso, a instituição olha para frente, pois a Selic demora de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Neste momento, por exemplo, o BC já está mirando na expectativa de inflação calculada em 12 meses até meados de 2026.
Desde janeiro, a inflação acumulada em 12 meses é comparada com a meta e com o intervalo de tolerância. Se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida. Atualmente a taxa acumulada em 12 meses está acima dos 5% ao ano.
O que levado a inflação a ficar acima da meta máxima? É uma combinação de fatores internos e externos.
Internamente o consumo tem sido estimulado pelo governo Federal. O mercado de trabalho se mantém resiliente, com geração formal de emprego positivo e taxa de desemprego controlada. Além disso, os gastos públicos excessivos contribuem para maior circulação do dinheiro na economia. Os preços administrados, com reajustes anuais, pressionam a inflação. E ainda, o governo Federal criou mecanismos para o aumento do crédito. Combinações que potencializam o consumo das famílias, variável que representa quase 70% do Produto Interno Brasileiro.
Os fatores externos também contribuem para realimentar a inflação. Mesmo com um câmbio mais comportado, a volatilidade da moeda estrangeira pressiona os preços internos. E outro importante fator é a alta de preços internacionais de alimentos e de energia. Isso tudo provocado por um ambiente de conflitos geopolíticos, gerando mais instabilidade nos preços dos produtos, notadamente as commodities alimentícias, metálicas e em especial o petróleo.
Não obstante as causas virem de várias frentes, há consenso entre os economistas fora do governo, com os quais compartilho a leitura, é que a causa primária está no descontrole das contas públicas, com gastos acima da capacidade arrecadatória, gerando, artificialmente, uma sensação de bem-estar.
Por este prisma, a simples mudança da forma de conduzir os gastos públicos pelo governo federal, estancaria parte da pressão inflacionária, e melhor ainda, geraria um ambiente econômico de maior previsibilidade, estimulando o setor produtivo a ampliar a oferta de bens e serviços.
Enquanto isso não for praticado, e parece que não será, afinal estamos a um pouco mais de um ano das eleições presidenciais, será necessário manter a política monetária rigorosa para anular a política fiscal frouxa.
O Banco Central faz sua parte, mas não tem sido suficiente. Em resumo: continuaremos tentando enxugar gelo.