A cobrança no controle inflacionário brasileiro está cada vez mais forte. Até mesmo nos discursos para reduzir a tensão entre Poderes, o tema surge. O contexto é: precisamos focar nos graves problemas do País, deixando de lado as questões políticas, porque a inflação está alta, o desemprego é elevado e a economia precisa voltar a crescer. Isso tudo é verdade.
O que tem incomodado, é o reducionismo da discussão. A classe política, principalmente os opositores ao governo Federal, alardeiam que, por incompetência da equipe econômica comandada pelo ministro da economia, Paulo Guedes, é que há desequilíbrios no mercado. Tenho sido crítico em relação a inércia dos técnicos da área econômica, mas é preciso ampliar a discussão.
Muitos governadores e prefeitos, fecharam a economia para controle da pandemia no novo coronavírus, a covid.19. A tônica era: primeiro a saúde, a economia vemos depois. Não obstante a gravidade sanitária, houve muita precipitação. Aqui no Estado de São Paulo, por exemplo, o governador do Estado, nivelou todas as cidades do interior pelo retrato pandêmico da grande São Paulo. Fechou a economia antes do necessário.
É simples entender o preço que pagamos neste momento: menos ofertantes de produtos e serviços, demanda concentrada em boa parte nos alimentos, os preços nivelaram esta relação. Além disso, o risco Brasil aumentou com as questões fiscais e políticas, a cotação do dólar disparou, aumentando boa parte dos custos de produção.
Quando as coisas começam a voltar ao normal, com as pessoas voltando a ter o consumo no nível anterior a pandemia, a velocidade em adquirir bens e serviços, passou a ser superior a capacidade de as empresas ofertarem os produtos no mercado. Este descompasso está sendo potencializado com um mercado importador com apetite, notadamente em relação as commodities brasileiras.
Em parte, a inflação vem atingindo vários Países. O Brasil acumula alta da inflação de 9,68% em 12 meses. A nossa vizinha Argentina, 51,8%. O Haiti, 17,9%. Outros Países operam em níveis menores, mas estão preocupados com a alta de preços: Estados Unidos têm inflação de 5,3% em 12 meses, o Chile 4,8%, o México 5,59% e o Chile 4,8%.
Por este raciocínio podemos afirmar que boa parte da carestia tem explicação pelo descompasso entre oferta e procura. Muito do que vem ocorrendo é fruto de um período atípico em que os agentes econômicos foram obrigados a mudar o comportamento de consumo, e agora, na volta da normalidade, estão pagando um preço alto.
É evidente que com menos questões políticas impactando o nosso dia a dia as coisas seriam mais fáceis, mas o alerta é: cuidado com a análise rasa e cuidado com o canto da sereia.