É preciso controlar a carestia

O brasileiro conviveu anos a fio com a hiperinflação. Notadamente nos anos de 1980, considerada década perdida na economia, os índices mensais de inflação eram de dois dígitos.

Tivemos pequenos períodos de inflação baixa, logo após os planos econômicos, como o Plano Cruzado 1 e Plano Cruzado 2, Plano Bresser e Plano Verão, planos estes que congelaram os preços da economia, mas sem a consistência necessária, em segundo momento, a inflação voltou a disparar.

Entramos em 1990 com inflação mensal de 84,23%, acumulando em 12 meses 4.853,90% (não se assuste, é isso mesmo). Veio o Plano Collor, com o chamado confisco de dinheiro, reduzindo a liquidez do mercado, que também derrubou a inflação, mas novamente a carestia voltou a assolar o País. Finalmente o Plano Real derrubou efetivamente a inflação no Brasil. Isso foi em 1994.

De lá para cá, tivemos momentos agudos de desequilíbrio de preços no mercado, mas nunca mais tivemos inflação mensal de dois dígitos. Retiramos parte da carestia de cena.

Não obstante o sucesso no controle de preços, o tema volta à baila, preocupando a todos. Evidentemente que não estamos mais falando de inflação de 20, 30, 40% ao mês, e sim de uma preocupação em não deixar a inflação desgarrar da meta fixada pelo Banco Central, ou na pior das hipóteses do limite máximo tolerável. Para este ano a meta é de 3,75% com variação de 1,5 ponto percentual. Assim, estaria dentro da “normalidade” inflação de no máximo 5,25% para o ano fechado. Não é isso que se observa. A inflação oficial está acima dos 8% se olharmos os últimos 12 meses, e as projeções apontam para um nível acima de 7% em 2021.

Este patamar é resultado da média ponderado dos bens e serviços que compõem a inflação, isso quer dizer, que alguns preços sobem mais, outros menos. Aqui reside o problema. Os mais pobres estão sentindo mais fortemente a carestia. Os preços dos alimentos, bebidas, energia, gás de cozinha, entre outros, considerados bens essenciais, vêm pesando fortemente no bolso do trabalhador. Muitos deles operam em dois dígitos, como era no passado. Como exemplos: óleo de soja acumula alta acima de 80% em 12 meses. O arroz subiu mais de 40%. O tomate também 40%. Carne 34% de alta.

Isolando a classe mais pobre da população, que gasta quase a totalidade de sua renda em produtos básicos, a inflação está na casa dos 25% em 12 meses. Perda do poder de compra na veia.

É o problema da média, neste caso, ponderada, que leva em conta o peso de produto no compito geral da inflação.  No caso de média a coisa funciona assim: uma pessoa tem dois carros, a outra pessoa nenhum, na média, cada um tem um carro. Só que um anda a pé e o outro não. Desta maneira podemos afirmar que cada um tem uma inflação para chamar de sua. A pandemia bagunçou o jogo de oferta e procura.

A partir desta constatação fica um indicativo: mesmo operando em níveis baixos para o histórico de inflação no Brasil, não é aceitável, com tantos instrumentos de política macroeconômica, que não consigamos dar um choque de oferta e conter a demanda, fazendo com que os preços da economia se comportem dentro do razoável. Mesmo em economia de mercado, com preços livres, é possível e necessário que ajustes sejam feitos.

Precisamos urgentemente voltar a ter inflação baixa, protegendo o poder de compra dos mais pobres da população.

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