Muita gente ficou sem entender a reação do “mercado” depois da decisão que tornou o ex-presidente Lula elegível (pelo menos por ora). A bolsa brasileira caiu, o dólar subiu, enfim, no dia da decisão do Ministro Fachin do Supremo, as coisas fugiram a normalidade.
Evidentemente que o “mercado” reage irracionalmente no momento que recebe a notícia e nos dias seguintes, já assimilando o que ocorreu, tende a gradativamente voltar à normalidade.
Quero aqui chamar a atenção para o pano de fundo desta reação que não afeta somente os grandes operadores do mercado e sim a maior parte dos agentes econômicos: o populismo.
Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), sempre foi um político habilidoso, comunica diretamente com seu eleitor, e promete entregar ao seu público o que o povo mais simples deseja: promessa de resolver todos os problemas principalmente utilizando o dinheiro público.
Com viés estatizante, Lula e seus seguidores querem maior participação do Estado na economia. Ele até se rendeu em determinado momento de sua gestão ao neoliberalismo, mas agora, mais velho, mais empoderado, querendo efetivamente ser um contraponto à direita de Bolsonaro, tende, eu disse tende, a colocar as mangas de fora e, se eleito, colocar em prática sua ideologia e seu conceito de poder. Será mais Estado e menos o setor privado. Populismo puro.
Bolsonaro está sendo testado no poder. Casou com a pauta liberal de Paulo Guedes, mas em sua trajetória política sempre defendeu pautas do nicho que o elegeu para vários mandatos como Deputado, e ganhou notoriedade e até as eleições presidenciais por ser um contra o PT, consequentemente contra o Lula. Estava no lugar certo na hora certa e se valeu da falta de liderança dos demais candidatos à presidência. Foi eleito Presidente da República. É também um populista. Isso ficou evidente quando inicialmente até negava a necessidade de pagar o auxílio emergencial aos mais carentes que sofreram duramente os reflexos da pandemia, e depois, surfou no crescimento de sua popularidade, fazendo com que os idolatrados do passado via Bolsa Família, agora demonstrassem elevada admiração a quem passaram a chamar de mito. Isso sem falar da pauta de costumes.
Ambos apresentam riscos a condução da política econômica brasileira. No caso do Bolsonaro isso está ligado a tentação de abrir os cofres para se contrapor a um eventual crescimento da candidatura de Lula. O Petista, pelo seu histórico, e pelo empoderamento que poderá ter se for novamente eleito para ser Presidente do País, tenderá a trabalhar para um novo rumo ao sistema econômico vigente, mais voltado ao socialismo. Nos dois casos perdem todos.
Os mais necessitados podem até ter algum tipo de alívio no curto prazo, mas caso ocorram aventuras fiscais, perderão muito no médio e longo prazo devido ao desequilíbrio da economia, gerando incertezas de toda ordem, com possibilidade de descontrole inflacionário, necessidade de elevar a taxa de juros, convivendo com câmbio nervoso e o crescimento econômico sustentável será mais uma vez adiado. Consequências sociais no horizonte.
Sem dúvida o País vive um momento delicado, e o que é pior, com insegurança jurídica que somente retarda o equacionamento dos graves problemas do País. Se novamente tivermos um embate entre Lulistas e Bolsonaristas, o chamado Fla-Flu, espera-se que surja alguma liderança, que seja uma alternativa para fugirmos do populismo. Não será tarefa fácil à medida que pautas reformistas dificilmente elegem políticos, mas não é possível aceitar passivamente aventuras políticas.
Apesar desta leitura ainda há esperança no ar: uma delas é a mudança no entendimento na Suprema Corte no tocante ao a decisão de Fachin. A segunda, caso se isso não ocorra, é torcer para que os processos que condenaram Lula não voltem à estaca zero, e por último, o que seria mais fácil, Bolsonaro não se render à tentação de abrir deliberadamente os cofres públicos visando sua reeleição. Que tempos difíceis!