Juros a 15%: estabilidade de preços à custa do crescimento?

Juros a 15%: estabilidade de preços à custa do crescimento?

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. A justificativa é clara: conter a inflação e preservar a credibilidade da política monetária. Mas essa decisão levanta um dilema central: até que ponto o combate à inflação justifica o sacrifício da atividade econômica?

O Banco Central argumenta que a inflação segue acima da meta de 3%, com projeções de 4,8% para 2025 e convergência apenas em 2027. Em um cenário de pressões fiscais, volatilidade cambial e incertezas externas, a autoridade monetária opta por manter uma postura cautelosa, mesmo diante do custo elevado para a economia real.

A manutenção da Selic em 15% atua por diversos canais. Juros altos encarecem financiamentos, retraem o consumo e reduzem a demanda por bens e serviços. Setores como varejo e construção civil, dependentes de crédito, são os mais afetados. Além disso, empresas adiam projetos diante do custo elevado do capital, o que limita a geração de empregos e a expansão produtiva.

A política monetária restritiva, embora eficaz no controle da inflação, pode agravar a desaceleração econômica e aumentar custos sociais, como desemprego e desigualdade. No mercado financeiro, a renda fixa se torna mais atrativa, provocando migração de recursos da bolsa para títulos públicos e CDBs, reduzindo a liquidez do mercado acionário e pressionando as cotações das empresas listadas.

A estratégia do Banco Central privilegia a ortodoxia monetária: manter expectativas ancoradas e garantir estabilidade de preços, mesmo que isso signifique menor crescimento da economia. O alerta é que o “remédio” pode ser mais forte que a doença, pois a inflação só deve convergir para a meta em 2027, enquanto a economia poderá enfrentar um prolongado período de estagnação.

O desafio é encontrar um ponto de equilíbrio entre controle inflacionário e dinamismo econômico. Juros elevados são uma ferramenta poderosa, mas não podem ser a única resposta. Sem reformas estruturais, estímulo à produtividade e políticas fiscais responsáveis, o Brasil corre o risco de pagar um preço alto: inflação sob controle, porém com crescimento anêmico e aumento das desigualdades.

Uma coisa ficou clara na Ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central: o objetivo da política monetária é atingir o centro da meta de 3% de inflação e não o limite máximo de 4,5% e que os juros ficarão elevados até isso ser realidade. Juros não cairão no curto prazo.

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