As divergências em torno da taxa básica de juros

O economista Reinaldo Cafeo explica como os juros impactam a economia em seu artigo inédito.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil manteve a taxa básica de juros inalterada, portanto em 13,75% ao ano. Em nota, no dia da tomada de decisão, portanto quarta-feira passada, dia 21 de junho, o Banco Central foi, diríamos, duro e conservador, fazendo entender que os juros no Brasil iriam demorar a cair, mas não foi isso que a ata do Comitê divulgada nessa terça-feira (27) apontou.

Em uma leitura mais apurada podemos apontar para uma certa divergência entre os diretores do Banco Central sobre a possibilidade de abrir a porta para o início da queda dos juros em agosto, próxima reunião do Comitê.

A ata traz, entre outros aspectos, o apontamento que entre os membros da diretoria do Banco Central há quem indique que o aperto monetário pode começar a ser afrouxado a partir de agosto. Tem-se a impressão de que o colegiado omitiu a divergência na nota da semana anterior, passando parte do que efetivamente foi discutido na reunião.

No debate entre os diretores do Banco Central “observou-se divergência no Comitê em torno do grau de sinalização em relação aos próximos passos. A avaliação predominante foi que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, diz parte da ata divulgada.

Vale destacar que em breve dois diretores indicados pelo governo Lula integrarão o Comitê, portanto, a pressão pela redução dos juros será ainda mais intensa.

Divergências sempre existirão, mas o que não é possível aceitar, é que decisões técnicas sejam contaminadas por questões políticas. Afinal, todos que acompanham o dia a dia da economia, observam o verdadeiro massacre em torno da autonomia e independência do Banco Central e principalmente pelo posicionamento firme de sua diretoria em fazer o que tem que ser feito, doa a quem doer. Uma eventual virada no comportamento trará descrédito do Banco Central, o que é extremamente danoso a economia brasileira.

De qualquer maneira é possível sim projetar queda dos juros em breve, contudo, fica o alerta: a política não pode e não deve prevalecer as questões técnicas.

🌐 www.reinaldocafeo.com.br

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