Era uma vez um empreendedor em um país chamado Brasil. Ele sempre acreditou em seu potencial e buscou conhecimento para alicerçar seu negócio. Ele atua no comércio varejista.
Durante a pandemia quase perdeu tudo, mas utilizando de todo recurso disponível segurou a onda e no início de 2022 ele colocou a empresa novamente nos trilhos.
Fez movimentos internos visando estruturar adequadamente seu negócio. Investiu no planejamento estratégico, passando pela construção de indicadores, e canalizou recursos na capacitação de seu time de colaboradores. Tentou, via profissionalização da empresa, mitigar o risco não-sistêmico, aquele que é inerente a parte interna da organização.
Analisou o mercado e criou expectativas a partir de um modelo econômico pró-mercado, na linha “liberal”. Sempre confiou na previsão constitucional da livre iniciativa e direito a propriedade. Pessoa de família, educou seus filhos a luz de valores que garantem uma boa convivência em sociedade. Também sempre acreditou na liberdade de expressão, inerente a países que não possuem ditadores no poder.
Vinha empreendendo dentro de um cenário previsível, em que o Estado teria menor participação na economia, focado em segurança, saúde e educação, transferindo para iniciativa privada aquilo que é inerente a esse setor. Acreditou no marco do saneamento básico, que permitiria que muitas pessoas carentes finalmente poderiam acessar água e esgoto, melhorando a qualidade de vida.
Ficou muito feliz com um Banco Central autônomo e independente, que seria um guardião da inflação, com política monetária ajustada a realidade de inflação e desempenho econômico.
Acreditou em um Estado que faria as reformas necessárias, sendo as duas principais: a administrativa e tributária. Projetou um Estado que seria muito criterioso com os gastos públicos.
Também avaliou que com um governo Federal sério, comprometido com o tripé-macroeconômico, ou seja, ter metas de inflação, câmbio flexível e rigor fiscal, haveria um nível de confiança junto aos agentes econômicos, que a prosperidade viria, e com ela a redução das desigualdades sociais.
Diante deste cenário, como empreendedor esperava que a taxa de juros caísse, e ele pudesse alavancar seu negócio com recursos de terceiros, barato e de longo prazo.
Mas algo aconteceu entre em janeiro de 2022 e o momento atual. As incertezas atuais são maiores. Pautas de costumes passaram a tomar vulto no dia a dia. Ataques diários ao Banco Central e sua política de juros tem tirado seu sono, que já não enxerga mais no horizonte um baixo nível de risco.
As reformas estão paradas, e o Estado brasileiro cada vez mais inchado. Anúncios quase que semanais de aumento de tributos. Mesmo no ambiente internacional derrapadas de quem deveria “vender” a boa imagem do país, tem assustado os investidores. E tudo isso, com um novo Arcabouço Fiscal que geram mais dúvidas do que certezas.
A insegurança jurídica se instalou, os agentes econômicos se retraíram, os intermediários financeiros passaram a ser mais rigorosos no crédito, o desemprego aumentou, e esse empreendedor faz tripas coração para não desanimar.
E concluiu: empreender neste país não é fácil, mas uma coisa poderia acontecer, se o governo não quer ajudar, que ao menos não atrapalhe. “Deixe-nos trabalhar” falou em tom de desabafo.
Esse é desabafo deste e de tantos outros empreendedores que querem somente uma coisa: gerar riquezas, prosperar, e ter um país melhor para viver. Não é pedir muito.